Redes sociais e o poder narrativo de Donald Trump: como o presidente dos EUA reconfigura o debate internacional online

Redes sociais e o poder narrativo de Donald Trump: como o presidente dos EUA reconfigura o debate internacional online Em 11 de agosto de 2025 por GT de Debate Público Online. Bruna Drudi Lacerda e Sarah Mariana Ribeiro. Ao explorar as redes sociais como palco central de sua atuação política, Donald Trump não apenas mobiliza sua base interna, mas também impõe uma narrativa que ultrapassa fronteiras, influenciando agendas e discursos ao redor do mundo. Essa dinâmica evidencia como a lógica algorítmica das plataformas potencializa lideranças carismáticas e polarizadoras, transformando debates internacionais em arenas digitais onde a disputa por sentido se sobrepõe à busca por consensos. Os trens, metrôs e ônibus, principais meios de transporte para aqueles que vivenciam a vida corrida da grande São Paulo, são muitas vezes os lugares onde as pessoas acham um tempo para se atualizarem com as notícias do dia. Considerando a atual reconfiguração do ecossistema de comunicação, o acesso à informação chega cada vez mais rápido e fácil nas mãos dos usuários das redes sociais em seus smartphones, não dependendo mais de uma televisão ou papel físico para entenderem o que está acontecendo no sistema internacional. Contudo, embora as mídias sociais facilitem o acesso à informação, ainda é preciso ter um olhar atento ao que se recebe de notícia, principalmente em um ambiente caracterizado pela desinformação e disputas de narrativas. Direcionando o olhar para as redes sociais, é possível enxergar uma crescente polarização ideológica que busca controlar a narrativa de conflitos que vão além da esfera política, especialmente quando se pensa no oriente, ao observar a escalada do conflito entre Israel e Palestina. Nesse sentido, um líder político vem tendo sucesso em influenciar o debate político online global, trazendo o viés ocidental como centro de seu poder narrativo: Donald Trump. Representante de uma das maiores potências mundiais, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, carrega consigo a urgência de manter o país em seu lugar de privilégio no sistema internacional. Os EUA possuem o que Joseph Nye (2004) define como smart power, a habilidade de juntar o hard power, capacidade de influência coercitiva e econômica, e o soft power, a influência indireta, feita por meio da disseminação de culturas e vieses, como o american way of life. Desse modo, Trump influencia seus seguidores com postagens tendenciosas e pronunciamentos não oficiais através de sua página do X, como quando anunciou o cessar-fogo entre Israel e Irã através de uma postagem, sendo desmentido horas depois pelo ministro das relações exteriores do Irã, Abbas Araghchi, utilizando a mesma rede social. O posicionamento adotado por Donald Trump é uma estratégia descrita como “firehouse of falsehood“, na tradução literal, uma mangueira de incêndio da falsidade. Esse termo nomeia um modelo de propaganda que tem como objetivo inundar o ambiente informativo com a repetição de narrativas falsas para confundir e desgastar o entendimento da verdade factual. Esse tipo de ação evidencia um fenômeno cada vez mais comum: o enfraquecimento da credibilidade jornalística diante da ascensão de líderes políticos que se apropriam das redes para construir suas próprias versões dos fatos, como é o caso de Trump. De acordo com especialistas do The Washington Post – Fact Checker, alguns líderes políticos possuem a capacidade de minar os mecanismos de verificação jornalística, sobretudo ao insistirem publicamente em versões contraditórias dos acontecimentos. Essa dinâmica, associada a outros fatores de transformação do ecossistema comunicacional, contribui para a crescente tendência de os leitores não verificarem a veracidade das informações que consomem, comportamento que pode ser explicado por diversos fatores, entre eles: a confiança depositada em figuras públicas vinculadas à esfera política, a falta de tempo para analisar criticamente o volume excessivo de notícias recebidas diariamente, e, em muitos casos, a dificuldade em identificar fontes de informação confiáveis, tudo isso associado a uma descrença da política e nas instituições democráticas. É importante destacar que a guerra entre Israel e Palestina não é o único episódio alvo de desinformação promovido pelo presidente dos Estados Unidos da América. Um estudo realizado pela Universidade Vanderbilt, em Nashville, Tennessee, revelou que, durante seu mandato, Donald Trump proferiu mais de trinta mil afirmações falsas, muitas das quais foram repetidas diversas vezes ao longo do tempo. A prática adotada pelo presidente evidencia o uso da estratégia da mangueira de incêndio da falsidade, configurando-se como um dos principais instrumentos retóricos utilizados por Trump para obscurecer a transmissão de informações verídicas. Diante do prestígio e da influência internacional dos Estados Unidos, quem ousaria contestar o líder da principal potência mundial da atualidade? Essa reflexão é essencial para conscientização do público acerca da importância de verificar a autenticidade das informações consumidas, o que os estudiosos chamam de “integridade da informação”. Deste modo, torna-se indispensável que, antes de aceitar uma notícia como verdadeira, sejam analisados tanto o contexto em que a declaração foi feita quanto a credibilidade e a eficiência do veículo de divulgação. Referências NYE, Joseph S. Soft power: the means to success in world politics. New York: Public Affairs, 2004. Trump anuncia cessar‑fogo entre Israel e Irã; chanceler iraniano nega acordo. Veja. São Paulo, 23 jun. 2025. Disponível em: https://veja.abril.com.br/mundo/trump-anuncia-cessar-fogo-entre-israel-e-ira/ Acesso em: 29 jul 2025. PILDES, Richard. Firehose of Falsehood: How Trump is Trying to Confuse the Public About the Election Outcome. Election Law Blog, 18 nov. 2020. Disponível em: https://electionlawblog.org/?p=118798. Acesso em: 3 ago. 2025. KESSLER, Glenn. The Fact Checker rose in an era of false claims. Falsehoods are now winning. The Washington Post, 31 jul. 2025. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/politics/2025/07/31/fact-checker-falsehoods-glenn-kessler/. Acesso em: 3 ago. 2025.